O lugar da Educação: o lugar da escola pública


 por Graça Simões

“Uma sociedade mais justa e inclusiva” e “Uma democracia plena, participada e transparente” são grandes faróis capazes de construir consensos, mas que nada adiantam por si só, em termos de ação, se não tiverem sustentação em ideias com raízes concretas.
A educação é tão obviamente transversal na construção destes faróis, que facilmente se esgota em alusões discursivas de passagem, deixando livre o campo para investidas contrárias. E é nestas investidas que podem revelar-se e evidenciar-se os efeitos colaterais e destruidores dos ideais civilizacionais consensuais, que estarão acima dos modelos económicos e das ideologias. Assim, é preciso denunciar, explicitar e rejeitar:
● A lógica do reducionismo dos currículos e das ofertas educativas, porque não interessa formar pessoas “quadradas”, rudes e simples, incapazes de resolver problemas imprevistos ou de criar e alimentar o espírito;
● A lógica da concorrência generalizada entre escolas, professores, assistentes operacionais, alunos... A sua possível força motriz na transação de bens materiais e na economia é claramente prejudicial na esfera pública, em que o objetivo é distribuir o mais equitativamente possível;
● A lógica da concentração gestionária em que todas as pessoas assumem a identidade de um número, facilmente trocado, riscado, substituído. A educação é uma relação de pessoas com nome, com família, com terra, com passado e com futuro. A educação é um processo moroso de humanidade. Nada disto cabe numa célula de produção intensiva. Nada disto é compatível com o equilíbrio social;
● A lógica meritocrática, embalada na apologia do esforço e na valorização do trabalho, mas que facilmente se seduz pelas teorias dos dotes e capacidades e se encosta à ideologia da separação de “classes”; o mundo gerado nesta lógica serve apenas os interesses e conforto de uma elite, altamente preparada para o domínio da sociedade informacional, mantida por uma mole imensa de mão-obra-obra proletária, não especializada, sem competência nem possibilidade de escolha;
● A lógica de reforço da desvalorização do trabalho manual e a menorização explícita do ensino profissional, feito à medida das incapacidades e das dificuldades de inserção escolar e social, aumentando não só o fosso social, mas também o fosso entre o Homem e a Natureza, deixando espaço à robotização desta relação e aumentando os riscos de perda de controlo.
Estas são evidências que poderão conscientizar e mobilizar, porque:
● O que se tem feito em nome da poupança imediata é um absoluto endividamento humano, suspendendo os valores e princípios básicos da civilização;
● Os efeitos podem traduzir-se em retrocessos dispendiosos ou mesmo irrecuperáveis;
● A possibilidade de um mundo violento não o é só para os dominados.
O lugar da educação merece destaque no pensar das alternativas, mas não pode haver alternativa ao lugar da Escola Pública e do sistema público de educação. As investidas referidas são feitas através da Escola Pública, porque é ela uma força de ação pública, nunca absolutamente cativa das ordens hierárquicas, e imbuída dum impulso e de uma vocação democrática e emancipatória. O lugar da educação faz-se com a Escola Pública.