O trabalho sem direitos


por Elísio Estanque

Sessenta anos depois após o seu triunfo, o modelo do Estado social europeu desmorona-se à frente dos nossos olhos, ainda incrédulos perante a insensibilidade social do governo, o seu absoluto seguidismo em relação a credores e especuladores vorazes com todas as consequências que estamos a sofrer.

É perante este quadro que Portugal precisa com a maior urgência de pensar um caminho alternativo. E esse caminho terá de partir da consciencialização dos cidadãos de que a austeridade não é uma fatalidade. Que a teoria do “bom aluno” está a ter consequências desastrosas, sem que o governo da direita nos apresente uma saída. Sobretudo quando se constata que a dita austeridade incide sempre sobre os mesmos, sobre quem trabalha e tem menos recursos, deixando de fora os mais ricos e os especuladores que beneficiam com a crise e são protegidos pelo poder político. O caminho alternativo requer que se prepare o país para potenciar os seus recursos, para reagir e atuar de modo mais incisivo sobre as orientações dominantes na União Europeia em prole de uma Europa mais coesa e mais solidária, mas sem abdicar das relações que temos com outras regiões do mundo. É preciso relançar um novo modelo de desenvolvimento que contrarie o modelo neoliberal cuja falência e responsabilidade nas origens da crise estão à vista de todos. Uma alternativa que não existe “pronta a usar” mas que precisa do contributo de todos e todas, dos partidos, dos sindicatos, dos movimentos e dos cidadãos que não se revêm nos acordos da Troika e que estão cada vez mais cansados desta política. Uma alternativa que não deve excluir ninguém mas que requer posições claras e a rejeição do habitual tacticismo eleitoralista. É por isso fundamental que os democratas, homens e mulheres de esquerda, cidadãos fiéis aos valores da democracia e da ética republicana se juntem a este movimento e ajudem a reinventar o espaço público para revitalizar a democracia. Portugal é viável e todos temos lugar na busca das soluções.