Por um Portugal mais Feliz


por Gabriel Leite Mota

Durante o século XX a ciência económica andou afastada da felicidade. Apesar dos economistas clássicos considerarem-na o fim último da economia, e apesar de alguns economistas ao longo do séc. XX se terem preocupando com o tema, só nos finais desse século e no início do actual é que a economia verdadeiramente se preocupou com a felicidade, a sua mensuração e a sua incorporação nos modelos e políticas económicas.

A economia da felicidade está, actualmente, a assumir-se como força transformadora da ciência económica e das políticas económicas. Alternativa aos modelos neoclássicos e políticas neoliberais (que dominam o panorama mundial e as políticas da Troika), a economia da felicidade promove a interdisciplinaridade (com a Psicologia, a Filosofia e a Neurociência), o reposicionamento central da Economia Política e a construção de modelos económicos realistas em que o ser humano e a sua psique passam (voltam) a ter um papel basilar.

A economia da felicidade está a contribuir com a construção de um corpo de investigações que estão a trazer novas descobertas empíricas e novas teorias económicas. Dentro dessas descobertas destacam-se a evidência da relação positiva mas não linear entre crescimento económico e felicidade, a extrema importância do emprego para o bem-estar das populações (muito acima doutras variáveis macroeconómicas como a inflação), a prevalência dos fenómenos de adaptação, comparação e expectativas na satisfação dos indivíduos e peso decisivo da qualidade das relações pessoais e das instituições na felicidade. 

Ao nível político, a economia da felicidade veio desmentir a suposta neutralidade das políticas neoclássicas e afirmar que é impossível dar conselhos de política sem uma ideologia subjacente. Para além disso, veio também fomentar a discussão dos conceitos de desenvolvimento e dos respectivos indicadores. Em particular, veio demonstrar que o PIB é uma medida insuficiente e enganadora na medição do bem-estar das sociedades e que as variáveis subjectivas (como a felicidade) devem também ser incluídas nessa aferição do desenvolvimento. Finalmente, a economia da felicidade suporta um conjunto de políticas públicas que visam corrigir alguns erros que os agentes, ao agirem livremente nos mercados, acabam por cometer no que toca à obtenção do seu próprio bem-estar (como o excesso de consumo).

A economia da felicidade é, assim, uma ferramenta de extrema utilidade para a promoção de alternativas aos paradigmas político-económicos vigentes e para a construção de uma ciência económica que tem como linha mestra a promoção do bem-estar humano, para o qual o emprego e a sustentabilidade são factores fundamentais. O estudo de economia da felicidade em Portugal ou a aplicação dos seus modelos ao nosso país pode, assim, revestir-se de enorme valia na criação de políticas e soluções para a crise que estamos a atravessar.