Uma democracia plena, participada e transparente


por João Maria Grilo

No momento em que passou a ser possível que grupos de cidadãos, à margem dos partidos, se organizassem em movimentos independentes para promover projectos políticos de desenvolvimento local, algo mudou para sempre na nossa democracia e as ondas de choque – que só os mais atentos pressentem e ainda poucos compreendem – começam agora a abanar o rígido edifício dos poderes em Portugal.

O surgimento e consolidação, com vitórias eleitorais, destes movimentos é o reflexo de uma sociedade em transformação acelerada que muda a um ritmo mais rápido do que é possível prever e que apresenta, como denominador comum, uma descrença cada vez maior nos modelos dominantes de governação e nas suas lógicas de poder e de alternância.

Uma sociedade que quer intervir e participar nas decisões em tempo real. Fazer mais do que depositar boletins de voto nas urnas a cada 4 anos.

As ideologias e as fidelidades políticas esbatem-se e ganham relevo as “causas”. De âmbito local, regional ou internacional. Causas que por vezes nascem numa tarde nas redes sociais e no dia seguinte estão na rua com milhares de pessoas. Algumas serão efémeras, é certo. Mas outras há que se enraízam e podem ganhar expressão.

Os partidos continuarão a ser uma parte fundamental da nossa democracia, mas são cada vez mais os que querem ter uma participação politica activa fora da sua esfera. Cristalizados nas suas estruturas pesadas e demasiado verticalizadas, mostram dificuldade em lidar com estas dinâmicas e só poderão começar a reagir quando entenderem que, irremediavelmente, há um espaço que nunca mais será seu.
No entretanto, a maior ou menor expressão e consistência das causas mobilizadoras da sociedade depende inteiramente de nós e do que soubermos fazer neste novo espaço conquistado!