O irregular funcionamento das instituições

Ao recusar eleições antecipadas, o Presidente da República (PR) quis ressuscitar um governo defunto com o sopro de um compromisso de sujeição nacional que amarrasse o Partido Socialista (PS) à austeridade e ao declínio para lá desta legislatura. Neste processo o PS não sucumbiu às pressões. O plano de Cavaco Silva falhou agora, mas haverá insistências.

O governo defunto manter-se-á em funções para gerir os assuntos correntes do Estado de acordo com o que a troika mandar. Sabemos o que a troika manda. Conhecemos os novos cortes e todo o sofrimento que deles resultará. Sabemos que é não possível prosseguir por este caminho sem sentido. Não é por ver reforçado o apoio presidencial que um governo insustentável se reergue. O programa e a política são insustentáveis. Por isso mesmo, o que o PR anunciou foi o prolongamento da instabilidade até o dia em que a vontade popular se imponha e o governo defunto seja demitido.

As pressões sobre o Partido Socialista vão intensificar-se no futuro próximo. O sonho da direita é privar os portugueses de qualquer possibilidade de escolha. Procurará fazê-lo domesticando a oposição, atando as mãos ao PS numa união sem princípios, sufocar toda a esperança na formação de uma alternativa de governação capaz de resgatar Portugal das condições da troika e da servidão da dívida.

Em contrapartida, a compreensão agora expressa pelo PS de que o caminho proposto pelo PR não é de «salvação nacional» mas de prolongamento do sofrimento sem sentido, a que se somam sinais de abertura ao diálogo e à convergência por parte dos outros partidos políticos de esquerda com representação parlamentar, mostra que são possíveis soluções que até há pouco pareciam estar totalmente bloqueadas.

Portugal precisa de entendimentos, sim. Precisa de um amplo entendimento em torno de prioridades – rejeição de novo resgate, renegociação da dívida e libertação de recursos para o investimento e a criação de emprego, salvaguarda do Estado Social. Portugal precisa de um amplo entendimento para uma governação capaz de resgatar Portugal.