A questão da hegemonia

por António Pinho Vargas

A questão principal parece-me ser a da hegemonia, o conceito de Gramsci, primeiro, discursiva, segundo, das opções eleitorais Como combater a hegemonia discursiva dos neoliberais nos media em geral? Como criar alternativas que consigam ir além das opções habituais que se apresentam às eleições, face ao descrédito dos partidos em geral - ou pela captura pelos interesses económicos ou pelo sectarismo que divide as esquerdas? 

Sem um modo real de enfrentar no campo das eleições o actual estado de coisas, na hora da verdade - as eleições - as alternativas não existirão ou serão silenciadas. 

Claro que será possível tentar inventar outras formas de participação democráticas e modos de tentar passar outro tipo de mensagens. Mas sem enfrentar no seu próprio espaço aquilo que actualmente se "representa" e "apresenta" como o lugar da democracia - o parlamento e as eleições - sem criar uma forma de ter voz nessa vertente central, por insuficiente que esse espaço se tenha tornado, não haverá alternativas consequentes. Porque ficarão à porta do lugar visto como o "lugar da democracia". Deste modo serão fáceis de desqualificar pelos media dominantes como anti-democráticas. 

O alargamento da democracia a áreas mais vastas, onde não há democracia, tarefa importante, não pode fazer esquecer que existe e é visto como tal, o acto eleitoral como o momento por excelência da manifestação da vontade popular. Neste momento as esquerdas estão desqualificadas, ou por conúbio com os negócios, ou por radicalidade excessiva, virada para o passado. Os media tornaram esta visão hegemónica e por isso, esses partidos geram desconfiança, por uma razão ou outra. 

Este congresso terá de considerar este problema, sob pena de não passar de um muro de lamentações ou de discursos ineficazes que geram aplausos no seu interior mas que não se traduzem em reais alternativas de disputa do poder democrático. As medidas mais eficazes do ponto de vista político resultam das vitórias eleitorais. Para a democracia ser "participada" tem de apresentar reais alternativas eleitorais. 

A crise da democracia, a grande desconfiança face aos partidos que hoje produz a abstenção em massa e a rejeição dos partidos em geral resulta do facto de não ter havido ainda a capacidade de constituir plataformas de programas mínimos capazes de se apresentarem como "algo de novo".